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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Osama Bin Laden: Guerrilheiro, terrorista ou indivíduo em conchave com o governo dos EUA.

Coluna Opinião.

"Faz muito tempo que eu estou com vontade de começar essa coluna no meu blog, para falar de alguns temas polêmicos que muito me interessam e defender algumas idéias, conforme meus estudos no curso de Bacharelado em História e meus estudos pessoais. Assim, resolvi inaugurá-la hoje. Espero que possam apreciar o texto".


O governo estadunidense afirmou no dia 1º de maio de 2011 a morte de Osama Bin Laden no Paquistão, assassinado por forças militares dos Estados Unidos, e, essa notícia gerou uma série de discussões em todo o mundo, porém, muitas das coisas que eu entendo como equivocadas têm sido ditas e eu gostaria de falar sobre o assunto. A primeira coisa que eu gostaria de falar é que o termo terrorista é uma construção discursiva produzida principalmente pelo governo dos EUA e da Inglaterra para deslegitimar as lutas anti-imperialistas em formato de guerrilha, produzidas por grupos do Terceiro Mundo, que adotam essas técnicas por não terem condições bélicas de enfrentar em confronto direto os exércitos das potências ocidentais.


Dessa forma, a questão do terrorismo passa pela discussão do Imperialismo, e, na perspectiva acadêmica essa construção discursiva feita pelas potências Ocidentais para deslegitimar os guerrilheiros do Terceiro Mundo como terroristas poderia ser chamada de Orientalismo (uma constante construção de inferiorização do mundo não europeu pelos EUA e pela Europa), mas, falarei desse assunto mais para frente, em outro texto. Em meio a todas as discussões geradas pela morte de Bin Laden a que mais me incomodou recentemente foi à volta a uma teoria de que Osama Bin Laden teria realizado o ataque as Torres Gêmeas em Nova Iorque em conjunto com o governo estadunidense com o intuito de legitimar uma guerra contra o Oriente Médio que geraria lucros aos produtores de armamentos e aos EUA e seus aliados com relação à exploração de petróleo.


Eu me lembro dessa teoria sendo produzida logo após Osama Bin Laden e a Al-Qaeda terem assumido a autoria do ataque, e, ela me pareceu muito mal elaborada e a-histórica, além de me parecer coisa daquelas idéias de teoria da conspiração que alguns indivíduos “intelijudinhos” produzem, sobretudo os estadunidenses, que não conseguem produzir uma análise problematizante da História, voltada para as discussões sobre o Imperialismo. Os principais argumentos dessa teoria é que Bin Laden é rico, é empresário dono de imóveis e empresas nos EUA, vários de seus irmãos têm a mesma condição e são grandes acionistas de várias empresas armamentistas e de exploração de petróleo, além de outras empresas, bem como a família Bush. A partir desse pressuposto esses “teóricos” já fazem uma relação direta dizendo que se a família Bush lucrou e a família Bin Laden lucrou e se os EUA conseguiram seus objetivos de controlar as áreas petrolíferas então o ataque foi um conchave entre eles.


Bom, algumas questões podem ser levantadas se colocarmos mais algumas coisas nesse balaio. Osama Bin Laden (formado em economia e administração na Universidade de Jidá), de família rica Saudita rompeu com a sua família ainda nos anos 70 por adotar uma postura Pan-Arabista e de reação contra a “degradação” dos valores islâmicos tradicionais Sunitas (o Pan-arabismo é uma forma de pensamento que defende uma cultura árabe-muçulmana independente de influências européias e com um desenvolvimento industrial independente, pautado em uma teoria semelhante à teoria da dependência. Esse pensamento era baseado no anti-imperialismo e no nacionalismo exacerbado). Já o núcleo central de sua família, tal como as elites sauditas da época, eram aliadas as forças imperialistas e defendiam um desenvolvimento para a região em relação direta com os EUA e seus aliados, porém, com as invasões soviéticas Osama e seus seguidores se juntaram as elites muçulmanas e aos EUA para resistirem, já que a perspectiva das elites muçulmanas nunca foi voltada para o socialismo, e, Osama foi treinado pelas forças especiais Paquistanesas, financiadas pelas forças especiais estadunidenses com o intuito de deter o avanço soviético na região.


Após as lutas de expulsão das forças soviéticas Osama volta a sua luta contra os EUA, agora com maior experiência e subsídio, devido ao seu treinamento militar, e, daí em diante Osama e seus seguidores lutaram arduamente contra os EUA, atacando vários locais, tornando-se um dos principais procurados pelos EUA ainda nos anos 80, brigando com sua família, que tentou várias vezes retirar sua fortuna, e, tentando um ataque as Torres Gêmeas de Nova Iorque em 1991. Nos anos subseqüentes Osama se fortaleceu no Afeganistão e em 2001 conseguiu destruir as Torres Gêmeas, causando, subseqüentemente como retaliação por parte dos EUA, a invasão do Afeganistão e depois do Iraque, enquanto Osama continuou lutando e atacando alguns locais na Europa, e, todos esses conflitos geraram ônus muito significativos para os EUA e poucos lucros com petróleo, muito aquém do que eles esperavam, gerando rombos nos cofres públicos e inúmeras baixas no exército dos EUA, além de um gasto excessivo com segurança e uma diminuição significativa no turismo, devido ao próprio rigor para se entrar nos EUA e ao medo de atentados, gerando um processo que culminou na crise econômica de 2008, que estourou no mercado imobiliário estadunidense, o setor mais frágil daquela economia, mas que no fundo pode ser entendida como apenas o topo do grande iceberg produzido pelos impactos das quedas das Torres Gêmeas.


É com a adição dessas questões que eu refuto a idéia de que a queda das Torres Gêmeas foi uma armação entre Bin Laden, Bush e o governo dos EUA, pois, os indícios apontados pelas investigações do próprio Congresso dos EUA mostram que o governo sabia que o atentado ocorreria e não fez nada para impedi-lo. Acreditar que Osama fez um acordo com os EUA é dizer que ele é um indivíduo pouco inteligente, pois, de forma alguma isso lhe seria vantajoso do ponto de vista financeiro, como alguns acreditam, a única coisa que ele conseguiu foi projeção internacional para a sua causa (anti-imperialista) e gerar uma crise nos EUA.


Se o dinheiro fosse o objetivo de Osama, seria muito mais simples ele ter permanecido em seu núcleo familiar, não ter se voltado publicamente contra os EUA, como fez seus irmãos, teria talvez feito um acordo com a União Soviética em troca de um alto posto, não teria tentado atacar as Torres Gêmeas em 1991 e nem realizado outros ataques. Para que os EUA invadissem o Iraque não seria necessário então que Osama assumisse a autoria do ataque de 11 de setembro, bastaria que eles fizessem esse ataque e fizessem um grupo “feic” do Iraque assumir, ou mesmo alegassem as tais armas químicas, e, nem era necessário invadir o Afeganistão, pois uma vez que Osama e seu grupo lideravam o local os EUA poderiam entrar e explorar o local à vontade em um caso de acordo, longe inclusive dos olhos da mídia mundial, o que seria mais lucrativo.
Mesmo para aqueles que acreditam que os EUA conseguiram realizar seus objetivos de lucrar com a sua “Guerra contra o terror” e que sua crise é fruto apenas da especulação imobiliária, a idéia de uma aliança entre Bin Laden e os EUA seria maléfica para Osama, pois ele acabou assassinado no meio dessa empreitada. Se esse fosse o caso, seria muito mais inteligente que ele financiasse o atentado sem colocar o seu rosto a mostra, podendo então andar livremente pelo mundo e não sendo assassinado por tropas dos Estados Unidos.


A minha tese então é que Bin Laden realizou o ataque as Torres Gêmeas acreditando em sua causa anti-imperialista, e, os EUA foram omissos por acharem que lucrariam com isso. Os efeitos, porém, foram adversos, pois os EUA não conseguiram lucrar com as invasões e criaram dois novos “Vietnãs” e Bin Laden conseguiu efeitos para além de suas expectativas, desencadeando o fortalecimento do movimento anti-imperialista em todo o mundo, abrindo uma discussão cada vez mais ampla sobre o imperialismo e mostrando as atrocidades dos EUA no mundo árabe e em todo o Terceiro Mundo, além de conseguir criar uma crise econômica das mais graves nos EUA, que tem gerado sua queda gradual como a maior potência do mundo.

Átila Siqueira. 05/05/2011.